Pesquisadores do Scripps Research descobriram detalhes sobre como um poderoso anti-corpo anti-HIV agarra-se ao vírus. A descoberta enfatiza uma vulnerabilidade importante do HIV e sugere um novo alvo para o desenvolvimento de uma vacina.
"O que é inesperado e único sobre este anti-corpo é que ele não só se liga ao açúcar que recobre o vírus, mas também consegue pegar parte do invólucro de proteína do envelope viral", disse o diretor do International AIDS Vaccine Iniciative (IAVI), Dennis Burton.
"Podemos começar a pensar em construir imitações destas estruturas virais para usar em vacinas candidatas", disse o professor de biologia estrutural Ian Wilson.
Os pesquisadores isolaram o novo anticorpo e 16 outros do sangue de voluntários infectados com HIV. Desde os anos 90, Burton e outros pesquisadores vêm procurando por anti-corpos que neutralizem as várias cepas do vírus HIV, que faz mutações com muita rapidez. O PGT 128, o anti-corpo apontado no novo relatório, pode neutralizar cerca de 70% das cepas de HIV que circulam pelo mundo, bloqueando sua habilidade de infectar as células. Ele consegue fazê-lo com muito mais potência - ou seja, com concentrações muito menores de moléculas do anti-corpo - do que qualquer anti-corpo neutralizante amplo do HIV já relatado.
O novo relatório explica porque o PGT 128 é tão eficiente em neutralizar o HIV. Com o uso de cristalografia determinou-se a estrutura do PGT 128 ligada ao seu local de conexão com os protótipos moleculares do vírus. Com estes dados estruturais, e ao mudar experimentalmente e alterar o local alvejado pelo vírus, eles conseguiram ver que o PGT 128 trabalha, em parte, ao se ligar aos glicanos na superfície viral.
"Moitas" destes açúcares normalmente cercam o envelope de proteína do HIV, o gp120, protegendo-o bastante do ataque feito pelo sistema imunológico.
No entanto, o PGT 128 consegue se ligar a dois glicanos próximos e, ao mesmo momento, atinge o resto do "escudo de glicano" para dominar uma pequena parte da estrutura no gp120 conhecida como laço V3 (loop V3). Esta penetração do escudo de glicano pelo PGT 128 também foi vista por meio de microscopia eletrônica com uma forma trimérica do envelope de proteína gp120/gp41 do HIV-1, o que revelou que o epítope do PGT 128 parece estar facilmente acessível no vírus.
"Ambos os glicanos aparecem na maioria das cepas de HIV, o que ajuda a explicar porque o PGT 128 é tão amplamente neutralizante", disse a pesquisadora associada ao laboratório de Burton, Katie J. Doores.
O PGT 128 também se engaja ao V3 por causa de sua estrutura de espinha dorsal que não varia muito como outras partes do vírus por ser necessária para a infecção.
A potência extrema do PGT 128 é mais difícil de se explicar. O anti-corpo liga-se ao gp120 de uma maneira que provavelmente perturba sua habilidade de ligar-se às células humanas e de infectá-las. Mesmo assim, ele não se liga ao gp120 de forma muitas vezes mais firme do que os outros anti-corpos anti-HIV. A análise da equipe aponta que o PGT 128 pode ser extraordinariamente potente porque ele também se liga a duas moléculas de gp120 separadas, amarrando-se assim a duas estruturas que infectam as células em vez de uma só. Outros mecanismos também podem estar em funcionamento.
Os pesquisadores esperam utilizar o conhecimento sobre os locais a que estes anti-corpos se ligam no HIV para desenvolver vacinas que estimulem a longo prazo - talvez pela vida toda - a resposta protetiva do anti-corpo contra estes mesmos locais vulneráveis.
"Precisaremos provavelmente de múltiplos pontos no vírus para uma vacina eficiente, mas, certamente, o PGT 128 nos mostra um alvo muito bom", disse Burton.
De forma intrigante, o motivo básico do alvo do PGT 128 pode marcar uma vulnerabilidade geral para o HIV. "Outra pesquisa está começando a sugerir que ligando-se a dois glicanos e uma fita beta pode-se conseguir anti-corpos muito potentes e amplamente neutralizantes contra o HIV", disse Wilson.Fonte: isaúde.net
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